Estudantes da Unidade Curricular Livro de Artista da Licenciatura em Artes Plásticas da ESAD.CR
O Futuro como Aventura
O espaço expositivo como espaço editorial
[15.06.2024 - 20.07.2024]
Centro de Cultura Contemporânea 9
-
O FUTURO COMO AVENTURA
Texto de Ana João Romana e Isabel BaraonaUma série de postais publicados por Ernesto de Sousa, intitulados O passado como aventura (1978), foi o mote para um trabalho colaborativo entre Ana João Romana e Isabel Baraona, que envolveu 35 artistas e colectivos. Esta obra, uma série de postais, foi exposta no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e enviada via CTT para um largo número de destinatários. Na introdução de Artists’ postcards from 1960 to now, sobre a colecção de postais de artistas em acervo no British Museu em Londres, Jeremy Cooper explica claramente que cada postal é uma ideia original e não uma ilustração, e diz if you own one of these postcards, you own an original artwork by this artist*.
Amantes e fazedoras de livros de artista e múltiplos, consideramos que o postal, apesar do modesto formato, é uma oportunidade para expressar uma ideia poética e, porventura, também suporte para manifesto político. Mas, sobretudo, como diz Michael Bracewell every postcard describes a world; and every postcard bought or sent appears to promise a friendly gesture – the desire to share a moment’s closeness with its recipiente**.
Se voltamos a este título que conjuga futuro e aventura, é porque nós, Ana e Isabel, enquanto artistas visuais e professoras, nos interessamos por cruzar artistas de diversas gerações e experiências, tecemos relações entre os que foram nossos mestres e estes jovens que conhecemos na ESAD.CR. Ao fazer uma nova série de postais sublinhamos ainda o interesse em expandir a concepção de exposição, queremos que seja uma experiência que se estende no espaço e no tempo, com o envio dos postais via CTT. Em diálogo aberto, queremos continuar a ensaiar possibilidades de encontro entre artistas e os mais variados públicos.
A convite da Cooperativa de Comunicação e Cultura organizamos duas exposições que se unem sob este mote, mas que se divide em dois espaços, a Centro de Cultura Contemporânea 9 & 13. No Centro de Cultura Contemporânea 9, edifício sede, tomamos o espaço expositivo como espaço editorial onde podemos ver, ler, folhear, editar e até distribuir a partir de um conjunto de publicações produzidas desde 2010 no contexto da Unidade Curricular Livro de Artista, da Licenciatura em Artes Plásticas. Nesta disciplina são exploradas diferentes estruturas de livros, projectos colectivos como as Edições da Sala 5 e projectos individuais de publicação, privilegiando em todos os momentos a trilogia de aprendizagem: hands on, minds on, hearts on. (aprender fazendo, fazer pensando e pensar envolvendo-se).
Esta exposição está dividida em três capítulos. No capítulo I podem ser vistos livros publicados por estudantes e alumni da ESAD.CR, no capítulo II a exposição torna-se um espaço editorial colaborativo —
— convidamos os visitantes a escolher as obras que são expostas nas paredes da galeria, tomadas aqui como páginas em branco, o visitante participa assim como editor e curador. Todas as obras disponíveis para esta proposta de edição no espaço foram concebidas por estudantes para a publicação Edições da Sala 5, um projecto colectivo de assembling realizado desde 2011 no contexto da disciplina de Livro de Artista. No capítulo III está disponível para distribuição gratuita a coleção de postais O futuro como aventura, publicados este ano lectivo numa parceria entre estudantes do 2º ano da licenciatura e do 2º ano de mestrado em Artes Plásticas. Os postais publicados pela turma de licenciatura foram concebido pelos estudantes: Alexandra Camacho, Alice Batella, Anne Calderón, Eva Jasiulyte, Ritz, Gago, Andreia Domingos, Filipa Emauz, Gediminas Rydelis, Inês Oliveira, Inês Pinheiro, Jo, Joana Ferreira, José Sopa Laranjeira, Lara Domingos, Leonor Bento, Beatriz Coelho, Maria Camacho, Matilde Fernandes, Miriam Durães, Solonur, Teresa Pessoa e Tomás Fernandes. Assim celebramos
14 anos de publicações por estudantes na disciplina
de Livro de Artista.O Centro de Cultura Contemporânea 13 acolhe um heterogéneo grupo de alunos que actualmente frequenta o segundo ano do Mestrado em Artes Plásticas. Nove talentosas pessoas com diferentes percursos e saberes, que aqui se encontram em profícua conversa: Álvaro Nogueira e Margarida Moreira Martins são Licenciados em Design do Produto e Cerâmica (ESAD.CR); Rubi Gamallo é Licenciada em Design Gráfico (ESAD.CR); Inês Santos, João Soares e Maria Manuel são Licenciados
em Artes Plásticas (ESAD.CR); Rui Anastácio é Licenciado em Programação e Produção Cultural (ESAD.CR); Fredrik Robens é Licenciado em Artes Visuais pela Universidade da Madeira e em Bellas Artes na Universitat Politècnica de València; e Helena Valsecchi é uma artista com um percurso já firmado.2024, este tempo de mudança assemelha-se a outro tempo de mudança, 1974. Oxalá o futuro seja uma promissora aventura. Em 1976, para uma exposição de Helena Almeida na Galeria Módulo, Ernesto de Sousa escreve sobre “realizar-se a si próprio” e “fazer coincidir
a criatividade individual e a criatividade do mundo”. Ernesto termina o texto em tom de convite:
agora e aqui
é um sinal de esperança e aumenta a vontade
de fazer outra vez as contas
vamos começar de novo?***
*COOPER, Jeremy. (2019) The World Exists to be put on a Postcard, Artists’ postcards from 1960 to now. Londres: Thames & Hudson / British Museum.
** BRACEWELL, Michael. (2011) The Postcard Art of Gilbert & Georges 1972-1989. The Postcard Sculture, Postcard Pieces, Titled Postcards Pictures. Munique: DelMonico Books/Prestel. *** Texto para a exposição homónima
de Helena Almeida, Galeria Módulo (Porto), Junho-Julho do ano 1976
Estudantes do segundo ano do Mestrado em Artes Plásticas da ESAD.CR
O Futuro como Aventura
O espaço expositivo como espaço de ensaio
[15.06.2024 - 20.07.2024]
Centro de Cultura Contemporânea 13
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O FUTURO COMO AVENTURA
Texto de Ana João Romana e Isabel BaraonaUma série de postais publicados por Ernesto de Sousa, intitulados O passado como aventura (1978), foi o mote para um trabalho colaborativo entre Ana João Romana e Isabel Baraona, que envolveu 35 artistas e colectivos. Esta obra, uma série de postais, foi exposta no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e enviada via CTT para um largo número de destinatários. Na introdução de Artists’ postcards from 1960 to now, sobre a colecção de postais de artistas em acervo no British Museu em Londres, Jeremy Cooper explica claramente que cada postal é uma ideia original e não uma ilustração, e diz if you own one of these postcards, you own an original artwork by this artist*.
Amantes e fazedoras de livros de artista e múltiplos, consideramos que o postal, apesar do modesto formato, é uma oportunidade para expressar uma ideia poética e, porventura, também suporte para manifesto político. Mas, sobretudo, como diz Michael Bracewell every postcard describes a world; and every postcard bought or sent appears to promise a friendly gesture – the desire to share a moment’s closeness with its recipiente**.
Se voltamos a este título que conjuga futuro e aventura, é porque nós, Ana e Isabel, enquanto artistas visuais e professoras, nos interessamos por cruzar artistas de diversas gerações e experiências, tecemos relações entre os que foram nossos mestres e estes jovens que conhecemos na ESAD.CR. Ao fazer uma nova série de postais sublinhamos ainda o interesse em expandir a concepção de exposição, queremos que seja uma experiência que se estende no espaço e no tempo, com o envio dos postais via CTT. Em diálogo aberto, queremos continuar a ensaiar possibilidades de encontro entre artistas e os mais variados públicos.
A convite da Cooperativa de Comunicação e Cultura organizamos duas exposições que se unem sob este mote, mas que se divide em dois espaços, a Centro de Cultura Contemporânea 9 & 13. No Centro de Cultura Contemporânea 9, edifício sede, tomamos o espaço expositivo como espaço editorial onde podemos ver, ler, folhear, editar e até distribuir a partir de um conjunto de publicações produzidas desde 2010 no contexto da Unidade Curricular Livro de Artista, da Licenciatura em Artes Plásticas. Nesta disciplina são exploradas diferentes estruturas de livros, projectos colectivos como as Edições da Sala 5 e projectos individuais de publicação, privilegiando em todos os momentos a trilogia de aprendizagem: hands on, minds on, hearts on. (aprender fazendo, fazer pensando e pensar envolvendo-se).
Esta exposição está dividida em três capítulos. No capítulo I podem ser vistos livros publicados por estudantes e alumni da ESAD.CR, no capítulo II a exposição torna-se um espaço editorial colaborativo —
— convidamos os visitantes a escolher as obras que são expostas nas paredes da galeria, tomadas aqui como páginas em branco, o visitante participa assim como editor e curador. Todas as obras disponíveis para esta proposta de edição no espaço foram concebidas por estudantes para a publicação Edições da Sala 5, um projecto colectivo de assembling realizado desde 2011 no contexto da disciplina de Livro de Artista. No capítulo III está disponível para distribuição gratuita a coleção de postais O futuro como aventura, publicados este ano lectivo numa parceria entre estudantes do 2º ano da licenciatura e do 2º ano de mestrado em Artes Plásticas. Os postais publicados pela turma de licenciatura foram concebido pelos estudantes: Alexandra Camacho, Alice Batella, Anne Calderón, Eva Jasiulyte, Ritz, Gago, Andreia Domingos, Filipa Emauz, Gediminas Rydelis, Inês Oliveira, Inês Pinheiro, Jo, Joana Ferreira, José Sopa Laranjeira, Lara Domingos, Leonor Bento, Beatriz Coelho, Maria Camacho, Matilde Fernandes, Miriam Durães, Solonur, Teresa Pessoa e Tomás Fernandes. Assim celebramos
14 anos de publicações por estudantes na disciplina
de Livro de Artista.O Centro de Cultura Contemporânea 13 acolhe um heterogéneo grupo de alunos que actualmente frequenta o segundo ano do Mestrado em Artes Plásticas. Nove talentosas pessoas com diferentes percursos e saberes, que aqui se encontram em profícua conversa: Álvaro Nogueira e Margarida Moreira Martins são Licenciados em Design do Produto e Cerâmica (ESAD.CR); Rubi Gamallo é Licenciada em Design Gráfico (ESAD.CR); Inês Santos, João Soares e Maria Manuel são Licenciados
em Artes Plásticas (ESAD.CR); Rui Anastácio é Licenciado em Programação e Produção Cultural (ESAD.CR); Fredrik Robens é Licenciado em Artes Visuais pela Universidade da Madeira e em Bellas Artes na Universitat Politècnica de València; e Helena Valsecchi é uma artista com um percurso já firmado.2024, este tempo de mudança assemelha-se a outro tempo de mudança, 1974. Oxalá o futuro seja uma promissora aventura. Em 1976, para uma exposição de Helena Almeida na Galeria Módulo, Ernesto de Sousa escreve sobre “realizar-se a si próprio” e “fazer coincidir
a criatividade individual e a criatividade do mundo”. Ernesto termina o texto em tom de convite:
agora e aqui
é um sinal de esperança e aumenta a vontade
de fazer outra vez as contas
vamos começar de novo?***
*COOPER, Jeremy. (2019) The World Exists to be put on a Postcard, Artists’ postcards from 1960 to now. Londres: Thames & Hudson / British Museum.
** BRACEWELL, Michael. (2011) The Postcard Art of Gilbert & Georges 1972-1989. The Postcard Sculture, Postcard Pieces, Titled Postcards Pictures. Munique: DelMonico Books/Prestel. *** Texto para a exposição homónima
de Helena Almeida, Galeria Módulo (Porto), Junho-Julho do ano 1976
Toy Boy
Tronos Tombados Novos Colonos
[12.01.2024 - 24.02.2024]
Centro de Cultura Contemporânea 13
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¶ África como ponto de partida para a reflexão das várias fases da colonização dos povos do continente na busca do enquadramento socio-político das mesmas. A escravidão sempre foi parte do percurso histórico de África, em que africanos escravizaram africanos e onde a Europa durante séculos fez do continente e dos seus habitantes a sua fonte de receita. Com a abolição da escravatura, e consequentemente com o fim das colónias ocidentais em África, nascem as independências e transbordam as guerras civis no desentendimento entre facções políticas que ambicionavam o poder, coisa que ainda se vive nos dias de hoje em muitos países africanos. Daí a necessidade de reflexão em relação aos sistemas governamentais em África onde, nos dias de hoje, depois de séculos de história esclavagista, são os próprios africanos em cargos de poder que pilham os recursos das nações em seu benefício, deixando os povos a viverem em condições desumanas e sem os seus direitos respeitados. Não será esta também uma atitude colonial?
¶ Então nasce no imaginário do artista a ideia de que se os tronos dos reis e rainhas africanos com um conceito de governação onde a hierarquia de topo vivia para o benefício e desenvolvimento dos seus povos, não tivessem tombado no percurso da História existiria uma realidade diferente daquela em que vivemos nos dias de hoje, onde o opressor e colonizador é o preto para com o preto e a esperança dos povos e seus sonhos são acalcados a cada dia que nasce.
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Toy Boy (1976) vive e trabalha em Luanda, Angola. Define o seu estilo como documentação fotográfica da urbanização de Luanda. Coexistindo intimamente com o ambiente urbano, viveu quase toda a sua vida nos bairros de lata de Luanda — ruelas que o in- spiram e fornecem os materiais para o seu trabalho. A arte de Toy Boy reflecte a sua visão crítica sobre questões sociais quotidianas; articula as tensões cruas, preversas, corruptas, sociais e de género do ambiente urbano em constante mudança de Luanda. Fá-lo centrando-se na presença humana, olhando para a vida quotidi- ana das pessoas que vivem as duras realidades da cidade, tal como ele. O seu trabalho está profundamente enraizado no passado e no presente de Angola. Artísticamente deve pouco às tradições locais, mas também se apropria de estilos e técnicas ocidentais. Por vezes, opta pela Pop Art ou pela banda desenhada, outras vezes por colagens ou ready-mades. Com os olhos bem abertos às necessidades sociais, Toy Boy afirma-se como um artista formado pela “escola da vida” e podemos perceber, através do seu trabalho, a sua admiração e apreço pela visão sarcástica das mulheres em relação aos “mais duros”. Motivado por restrições económicas, utiliza materiais reciclados como a juta, o linóleo ou o algodão, o que não é típico dos artistas locais, mas liga fortemente o seu trabalho ao local. Qualquer pessoa familiarizada com a sociedade angolana contemporânea compreenderá imediatamente o trabalho de Toy Boy: a mensagem é clara.
Guilherme Curado
From Gross Bodies Freed, Divinely Move
[16.03.2024 - 13.04.2024]
Centro de Cultura Contemporânea 13
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“(...) from gross bodies freed, divinely move”, título retirado de um excerto da obra seminal de Cornelius Agrippa, The philosophy of natural magic, explora a intersecção entre humanidade, natureza e o etéreo e propõe através de um futuro pós-humano ficcionado, a criação de novas possibilidades de encontro e a dissolução das fronteiras entre as três asserções enunciadas. Não só inspirada na obra de Agrippa, mas também nos ensaios especulativos de outros autores como Donna J. Haraway, Werner Herzog ou René Daumal, a presente exposição convida a olhar/pensar para além do entendimento doutrinário apresentando uma nova realidade onde o humano e o elemental se aproximam. Como ponto de partida Guilherme ensaia e especula sobre a tensão entre o desejo humano de replicar a natureza e os profundos mistérios que esta contém.
Meticulosamente dispostas na sala, as delicadas esculturas trabalhadas em resina, atestam a crença de Agrippa de que as forças da natureza enceram em si próprias um poder sobrenatural, isto é, as sombras projetadas destas esculturas estendem-se muito para além dos seus limites físicos, evidenciando o insucesso da tentativa humana de replicar a essência do natural. A beleza e complexidade do natural impoem-se à mimetização.
A par destas esculturas apresenta-se uma instalação vídeo onde é capturada a fluidez dos elementos líquidos. A água que desagua em cascata e as correntes que tecem intrincados padrões e texturas confirmam a natureza mutável do tangível — cenário ideário de um futuro onde a humanidade se dissolve sublimemente nos elementos. Esta água, em constante fluxo energético, representa símbolicamente a inerente fluidez da vida e a tentativa fútil de fixar o seu significado.
A reiteração dá mote à exposição: a cópia de uma imagem; a gota que cai numa gavinha de musgo — um devaneio sobre a natureza fugaz da existência e sobre a multiplicidade de significados que podem derivar de um momento só. Susan Sontag em Contra Interpretações de 1964, afirma que “a interpretação é a vingança do intelecto sobre a arte”, propondo que cada um de nós deve resistir à tentação de impor a sua interpretação e, em vez disso, abraçar a ambiguidade e incerteza da sua própria existência.
A exposição “(...) from gross bodies freed, divinely move” desafia a percorrer as complexidades da existência pós-humana e a reconciliar com o fulgor do desconhecido. À medida que nos increvemos neste espaço, permitamo- nos ser desafiados e inspirados pelo que está cá dentro, não descorando a ideia de que o significado não deve ser imposto ao mundo, mas sim encontrado na complexidade da experiência, quer seja em cenários especulativos patafísicos quer seja no momento presente.
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Guilherme Curado (1996). Faro, Portugal
Artista multidisciplinar, reside e trabalha em Lisboa. Licenciado em Arte Multimédia e pós- graduado em Arte Sonora pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. A sua pesquisa existe na interseção entre o quotidiano, o místico e ficção, que materializa através de instalação, fotografia, som e escultura.